A trágica história de René Robert

A indiferença humana, mas também a fatalidade, fazem desta uma história trágica
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A trágica história de René Robert

10 fevereiro 2022

A indiferença humana, mas também a fatalidade, fazem desta uma história trágica

A indiferença humana, mas também a fatalidade, fazem desta uma história trágica. A 19 de janeiro de 2022, o fotógrafo suíço René Robert foi vítima de um episódio fatal e incompreensível: um simples passeio noturno pelas ruas do seu bairro, em pleno coração de Paris, terminaria com um desmaio e desfalecimento, sem que houvesse um gesto de apoio por quem passava na rua. Só após nove horas, o sucedido despertou a atenção de um sem-abrigo que lançou o alarme aos serviços de emergência médica. Mas já era tarde, o transporte para o hospital nada resolveria e, nessa noite, René Robert sucumbiu por hipotermia.

Nascido em Friburgo, em 1936, René Robert conheceu a Fotografia aos 12 anos e, desde esse momento, não mais deixou de fotografar. É, sobretudo, a partir dos finais dos anos 60 do século XX que o fotógrafo começa a desenvolver o seu fascínio pela cultura do flamenco, a paixão pela música e pela dança, que soube expressar através do retrato de muitos dos seus artistas mais representativos. Com efeito, ao longo de cinquenta anos da sua prática fotográfica, trajeto associado à passagem da fotografia analógica à digital, René Robert construiu um percurso com uma identidade singular na fotografia, sobretudo na área do retrato. Fotografou, em preto e branco, personalidades como Paco de Lucía, Enrique Morente, Chano Lobato, Fernando Terremoto, Israel Galván, Rocío Molina e Andrés Marín, nomes maiores do flamenco, registando a expressão e a verdade dos rostos, a nostalgia, a dor ou a felicidade, bem como a vitalidade e a sensualidade dos corpos em movimento.

Realizadas em diferentes locais, fixando encontros e momentos, as suas imagens revelam relações muito particulares, reflexivas e de olhar, do homem com uma cultura plena de sentidos estéticos e emocionais. Nas suas fotografias, a presença humana é tudo. Os seus retratos revelam o presente, mas também, a ancestralidade dos gestos e da existência, registando o que é visível, mas o que está para além dela, nisso construindo uma visão introspetiva que alia uma intensidade visual e poética, onde se destaca a sensação de mistério e de intemporalidade.

E este é, sem dúvida, o poder da Fotografia. E de René Robert, que nas suas imagens não foca apenas as qualidades visuais das cenas fotografadas, mas chama-nos a atenção para a dimensão sensorial, para aquilo que não podemos ver, mas que podemos intuir através das imagens, as suas realidades sonoras, as sensações táteis, a atmosfera musical, os momentos maiores de vivência da expressão humana.

O episódio da sua partida é lamentável e deixa-nos a pensar. Não poderia ter acontecido desta maneira. Mas rever as suas imagens será sempre um prazer e uma homenagem à sua grandeza artística.

Sandra Vieira Jürgens, coordenadora da Licenciatura em Fotografia e Cultura Visual do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação – Universidade Europeia.

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