A dois tempos: relações improváveis
Das muitas capacidades que são apontadas como definidoras da unicidade do ser humano, uma das que mais me agrada é, sem dúvida, a proposta por Daniel Gilbert
Das muitas capacidades que são apontadas como definidoras da unicidade do ser humano, uma das que mais me agrada é, sem dúvida, a proposta por Daniel Gilbert. Afirma o psicólogo norte-americano que é a nossa particular aptidão para pensar sobre o futuro aquilo que mais nos distingue enquanto espécie.
Nas palavras do próprio, «experimentar o mundo como não é e como nunca foi, mas sim como poderá ser» . Gilbert refere-se, claro, ao que chamamos vulgarmente de imaginação. Mas trata-se de uma imaginação que precisa de criatividade para se revelar consequente. É esse binómio ímpar e improvável que nos permite moldar o presente num futuro intencional, em vez de sermos forçados a aceitar, passivamente, o futuro inevitável que o passar do tempo assegura.
Mesmo quando não se propõe a olhar, em específico, para o amanhã, a actividade artístico-cultural é um dos indícios mais claros deste ímpeto que impele o ser humano a questionar o seu lugar no mundo e a intervir activamente sobre o contínuo temporal que o dirige. O artista-criador é, pois, figura maior na rebeldia contra a ditadura de um destino passivo. É isso que, antes de mais, celebramos no palco do teatro, que contemplamos na parede do museu ou que admiramos no verso do poema. A Cultura recorda-nos, com ritmos, cores e rimas, que a vida pode ser conquistada, não apenas sobrevivida.
Excerto do artigo de opinião de João Campos, professor no IADE. O artigo original pode ser encontrado aqui .